Rio: alunos de Realengo pintam azulejos para superar massacre ?
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011Após quatro meses de trabalho, um mosaico feito de azulejos desenhados por alunos e funcionários da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Encontra Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, começará a ser exposto no muro. A escola ficou marcada pela chacina de 12 crianças e jovens, cometida por um ex-aluno, em abril deste ano.
O mosaico, que faz parte de um esforço da prefeitura para reformar a escola depois do massacre, terá 34 m de comprimento por 1,7 m de altura. Segundo a diretora artística do mural, a arquiteta Laura Taves, a ideia foi fazer os alunos pensarem no presente da escola, esquecendo um pouco o passado.
“Foi feita a pergunta para os alunos: o que é a escola? A escola é o presente. O passado existe, ele foi trágico, ninguém vai esquecer, mas a escola é agora. Antes de começar o projeto, quando conversei com os professores, todos concordaram que isso não era para ser um memorial, mas uma renovação”, afirmou a arquiteta.
Segundo Laura, os desenhos surpreenderam porque trouxeram muitas mensagens positivas, mesmo aqueles que fazem menção à tragédia. Lucas Matheus, 13 anos, por exemplo, desenhou Jesus Cristo. “Porque eu desenhei Jesus? Porque aqui na escola, a gente tem trabalhado de mãos dadas, com um ajudando o outro, como fez Jesus”, disse o menino.
Já Thaysa de Paula, 13 anos, optou por desenhar um violão. “A música inspira a felicidade e traz a esperança para todos os que sofreram aqui. Ainda não superei a tragédia, porque isso vai ficar marcado em mim para sempre, mas sei que a gente tem que tocar a vida.”
Com 11 anos de idade, Matheus Gomes desenhou, no azulejo, um ônibus escolar, representando um passeio dos alunos. Ao contrário dos colegas, ele afirmou ter mais dificuldade em lidar com as lembranças do episódio de oito meses atrás. “Ainda tenho muito medo. Eu durmo de luz acesa, tomo banho com a porta aberta, tenho medo de ficar sozinho. Eu vou para a psicóloga, mas isso não ajuda muito, porque eu fiquei traumatizado”, disse.
Tragédia em Realengo
Um homem matou pelo menos 12 estudantes a tiros ao invadir a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, na manhã do dia 7 de abril de 2011. Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, era ex-aluno da instituição de ensino e se suicidou logo após o atentado. Segundo a polícia, o atirador portava duas armas e utilizava dispositivos para recarregar os revólveres rapidamente. As vítimas tinham entre 12 e 14 anos. Outras 18 ficaram feridas.
Wellington entrou no local alegando ser palestrante. Ele se dirigiu até uma sala de aula e passou a atirar na cabeça de alunos. A ação só foi interrompida com a chegada de um sargento da Polícia Militar, que estava a duas quadras da escola. Ele conseguiu acertar o atirador, que se matou em seguida. Em uma carta encontrada com ele, Wellington pediu perdão a Deus e deixou instruções para o próprio enterro – entre elas que nenhuma pessoa “impura” tocasse seu corpo.
Dias depois, a polícia divulgou fotos e vídeos em que o atirador aparece se preparando para o ataque durante meses. Em um deles, Wellington justificou o massacre por ter sido vítima de “bullying” praticado por “cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem”. Na casa dele, foram encontradas diversas anotações que mostraram uma fixação pelos ataques de 11 de setembro de 2001. O atirador acabou enterrado como indigente 15 dias após o massacre, já que nenhum familiar foi ao Instituto Médico Legal (IML) liberar o corpo.
Fonte: Portal Terra